quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Carta Aberta à Sra. Ministra da Educação

Acho que a Carta Aberta à Ministra da Educação abaixo, da nossa amiga Lena Alexandre, merece divulgação e, por isso vo-la envio e a vou acrescentar ao nosso blog http://realrepublicataitiana.blogspot.com/

A presente carta da Lena representa, no meu entendimento, uma posição sentida, honesta, com muita mágoa e fora de eventuais interesses corporativos, mas comum a muitos bons profissionais da Educação, que se sentem injustamente atropelados e humilhados pela actual política e gestão da Educação. É uma opinião livre, voluntária e não interesseira, interessada e cívica, logo muito mais credível que o “lixo” que se sente à volta da questão e que, por isso, só posso apoiar e divulgar.

Por mim vou procurar dar-vos a minha opinião em “post” separado.

Francisco Costa Duarte
BI 1078780
Av. Carolina Michaelis, 33 - 4º A
2795-053 Linda-a-Velha


Carta Aberta à Ministra da Educação

Srª Ministra.
Como cidadã dum País de Direito e Democrático, dirijo-me a si com todo o respeito que um ser humano me merece.
Tal não o fez V.Exª no que me diz respeito. E passo a explicar.
Fui (e sou no coração…) professora no ensino público durante 36 anos. Iniciei o meu percurso profissional em 1968 e sabia que a continuação do meu trabalho dependia da avaliação que a escola – através do seu director – me daria, resultado do meu trabalho dentro e fora da sala de aula. Nunca precisei de fichas, grelhas, de perder tempo a mostrar que merecia continuar, pois isso era inerente ao meu dia-a-dia. Tinha, pelo contrário, o tempo todo para o trabalho de preparação das aulas, para poder dialogar com os alunos, acompanhá-los nas visitas de estudo (que valiam tanto e eram factor de enriquecimento, sobretudo para os mais desfavorecidos). Tinha a sorte de pertencer a um grupo profissional que era visto com respeito, consideração. Participei em várias mudanças que sempre abracei com entusiasmo e interesse. Estudei, adaptei-me a "modas" pedagógicas sempre com esperança e com alegria por me saber a participar numa melhoria do ensino e na sua democratização. Sofri também com os sucessos administrativos concretizados nas passagens administrativas, com o enfraquecimento da exigência, com o peso do trabalho burocrático. Assisti à passagem de vários ministros com as suas orientações; alguns, diga-se em abono da verdade, nem nos apercebemos que lá estavam. Fui do grupo que foi submetido à prova do currículo, o que considerei uma traição, pois trabalhei 25 anos sem saber que teria ao fim desse tempo de ser submetida a semelhante prova. Mas, devo dizer que encarei sempre tudo isso como uma "aprendizagem". Participei nas mudanças de currículos programáticos. Fiz cursos de formação com gosto pois não iriam contar para "créditos", mas sim para a minha formação, para a minha contínua aprendizagem. Fui co-autora de obras didácticas no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa, fui formadora.
Quando me aposentei procurei dar continuidade a todo o meu esforço e às aprendizagens que o meu percurso profissional me proporcionaram. Sou, actualmente voluntária no Estabelecimento Prisional do Linhó, onde apoio e dou formação no âmbito das Novas Oportunidades, concretamente no RVCC, aos reclusos, e também apoio na Língua Portuguesa. Tal como eu, houve muitos e muitos professores que sempre trabalharam para dignificar a profissão.
Como vê, Senhora Ministra, a maioria dos professores, ao contrário do que faz entender à opinião pública, até gostavam do que faziam. Amavam e amam a sua profissão. A senhora conseguiu, ao pretender reformar o ensino (que até precisa de estar sempre a actualizar-se, ninguém o nega), numa óptica economicista, esquecer-se de usar do "reforço positivo" para com os professores, agentes tão importantes como os alunos no processo ensino-aprendizagem. Aqui volto ao início da minha carta. Senti-me mal tratada por Vossa Excelência, julgada na praça pública como preguiçosa, mal preparada, quase uma pária da sociedade, pois é assim que muitos dos portugueses acham que os professores são: "não querem ser avaliados", são as suas palavras, Srª ministra, esquecendo-se que a cada 45 minutos todos os professores são avaliados pelos alunos, pelos seus pares, por todos os trabalhadores duma escola.
Peço-lhe, pois, que reponha a verdade e não mais me chame "preguiçosa". Use de reforço positivo, simplifique a avaliação e dignifique os professores.

Maria Helena de Sá Dias Alexandre

(Professora Aposentada)

Sem comentários: