segunda-feira, 21 de julho de 2008

Os Automóveis Electricos

Jaime e Arnaldo,

A propósito de um ficheiro, mostrando a destruição em massa de automóveis electricos pelos respectivos construtores, que o Taitiano Arnaldo e o meu amigo Jaime me enviaram, resolvi fazer uma investigaçãozinha porque me fazia cócegas um construtor automóvel como, por exemplo, a Toyota, destruir um seu produto com êxito e futuro. É isso que venho partilhar convosco.

Um pouco de história.
1 - os motores eléctricos nunca foram o problema: é uma tecnologia dominada desde o fim do Século 19. Os comboios andam com motores eléctricos, mesmo os Diesel, cujo motor produz a energia eléctrica; os velhos eléctricos de Lisboa tinham motores de 80 KW; até o maior barco do Mundo, o Queen Mary II, tem motores eléctricos, com o Diesel a produzir a electricidade e nos anos 30 havia automóveis eléctricos que faziam velocidades de 160 km/hora.

2 – O problema sempre foi o armazenamento, isto é, as baterias. Lembram-se das velhas baterias da Tudor, pretas e cheias de água destilada com ácido sulfúrico diluído? Há, pelo menos, duas ou três dezenas de ex-colegas meus da Lucas que sabem, melhor do que eu, do que estou a falar. Nos velhos Carochas, como a minha velha “fourgonette” de campismo, com bateria de 6 volts, era uma aventura andar de noite muito tempo porque o consumo adicional dos faróis “limpava” a bateria! Até as vulgares pilhas pequeninas e redondinhas eram ácidas e babavam-se, estragando-nos os radiozinhos que então tínhamos para ouvir os relatos de futebol.

3 – Mas a conquista do espaço, os telemóveis, os Pc portáteis, precisavam de melhores baterias (não estou a ver ninguém a falar ao telemóvel com 20 kg. de baterias às costas!). A melhoria inventada pelo Sr. Oshitani da Yuasa japonesa e desenvolvida pela Philips e CNRS francesa nos anos 70, permitiu ainda mais melhorias pelo Sr. Ovshinsky, professor da Universidade de Stanford e fundador da empresa Ovonics que em 1986 patenteou as baterias NiMh (nickel metal hybride), de muito melhor performance. Eram aquelas baterias que vinham nos nossos primeiros telemóveis e que davam o “bafo” depois de algumas cargas. Lembro-me dos vendedores da Lucas, que punham nos kits dos carros para carregarem e se queixavam que a bateria dava o bafo ao fim de três meses! A Ovonics vendeu a patente à General Motors para desenvolvimento e daí surgirem os carros que vêm no ficheiro (o EV1 da GM, o Nissan Hypermini, a Toyota RAV4-EV).

4 – O problema reportado no ficheiro começa em 2002 quando a GM com problemas de rentabilidade para os seus accionistas e naquela lógica bolsista tipicamente capitalista (onde é que eu já vi isto?), vende as patentes à Chevron, antiga Texaco, apenas a maior empresa petrolífera do mundo! Obviamente a Chevron proibiu a Toyota, a GM e a Nissan de usarem as baterias para desenvolvimento de automóveis eléctricos! Daí as destruições, os movimentos de protesto de muitas entidades e particulares americanos, alguns deles com certo peso mediático como Schwartzenegger ou Howard Stein.

5 – Hoje já estamos noutra: as baterias de lítio, Li-ion, que equipa os telemóveis ou portáteis actuais, têm o dobro da capacidade para o mesmo peso e têm um limite muito mais alargado quanto ao número de cargas, comparadas com as NiMh. É esta a aposta da Renault/Nissan, da Volvo, da Ford e de outros construtores automóveis que têm os seus interesses e não estão dispostos a ficarem prisioneiros dos interesses dos petróleos do Sr. Bush e companhia.

6 – A este projecto juntou-se o israelita que acrescentou a ideia lógica: as estações de serviço para carregamento e/ou aluguer de baterias. É sempre mais barato usar a electricidade pelo cabo que já têm do que levar de camião, todos os dias, milhares de litros de gasolina para abastecer os depósitos de armazenamento, às vezes debaixo de prédios de habitação, com os perigos inerentes. Em Portugal é visível esta luta pelo controlo da energia entre a EDP e a GALP, para ver qual delas vai ter o privilégio de nos explorar mais no futuro. Foi a este projecto Renault/israelita que o Sócrates aderiu, com a Dinamarca e Israel, na fase experimental. E acho que, desta vez, terá feito bem (até os relógios parados estão certos duas vezes por dia).

7 – A minha dúvida é se a Renault está na primeira linha! A performance e datas anunciadas estão, aparentemente, atrás de, por exemplo, da Tesla Motors americana. Vejam, por exemplo, o site www.teslamotors.com e babem-se com o carro proposto. Só têm de preparar os € 100000 que ele custa.

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