sábado, 22 de novembro de 2008

A propósito da Avaliação dos Professores

Aqui fica a minha opinião, que vale o que vale.

Quando eu era um jovem estudante, a classe dos professores era conceituada e respeitada, bem mais considerada e prestigiada pela Sociedade Civil do que pelos poderes políticos de então, que consideravam que a educação da população tinha efeitos perversos, porque o conhecimento prejudicaria a “boa índole” do povo português. Claro que, como excepção que confirma a regra, esta não se aplicava aos filhos das elites políticas. A classe dos professores, muito mais letrada que o grosso da população analfabeta, era o “tronco” estruturador da sociedade do futuro, que passava o conhecimento, muitas vezes contra ventos e marés e daí o respeito e o prestígio que angariavam junto da população. Mesmo havendo, como hoje e em todas as profissões, os bons e os menos bons professores.

Eram, obviamente, tempos diferentes. A segurança social, o direito à saúde, o emprego seguro, só existiam no funcionalismo público, nalgumas, poucas, grandes empresas (grupo Cuf, bancos, etc.). A esmagadora maioria da população (rurais, empregados indiferenciados de pequenas empresas, marçanos, pedreiros, etc) só tinham direito a morreram na valeta, com alguma ajuda “caridosa” da Igreja e das elites desejosas de salvarem, uma vez por ano, a sua alma. Era o tempo em que um dirigente sindical não era convidado para os seus minutos de fama na Televisão mas “convidado” a passar umas “férias” em Caxias e em que nas manifestações havia mais polícias, com o cassetete pronto, que manifestantes. Os pais da minha geração procuravam, de espinha dobrada, as “cunhas” que permitissem aos filhos uma melhor vida e o acesso àquelas carreiras e aconselhavam os descendentes a não fazerem “asneiras” e a não terem opinião própria! O mérito não interessava, interessava a “cunha”, o estar “encaminhado”, o deixar o tempo passar, que a carreira fluía. A única avaliação era política: se não fizeres ondas, tudo está bem, se tens opinião diferente do poder, estás lixado. Era o tempo do “Deus, Pátria, Família”, em que Deus não tinha banco, a Pátria nada dava e pedia muito e a Família dava o que podia e podia pouco.

Fomos, pois, todos formados na mesma cartilha: mérito avaliado para quê? O que conta é o teu conformismo e a tua “cunha” (não sejas ingrato e não a deixes ficar mal, vê o que a “cunha” fez por ti!).

O 25 de Abril veio alterar, felizmente, tudo isto. Trouxe-nos, nos primeiros anos, o entusiasmo, a esperança, o sonho, mas também o folclore, a demagogia, a falência. E no caso da Educação, o acesso generalizado da população ao conhecimento e formação escolar. Com as consequências inevitáveis do crescimento, que dá dores: o maior número de alunos e professores, por uma daquelas incontornáveis leis universais não corrigíveis por decreto ou por manifestações, significa menor qualidade e motivação de alunos e professores. Trouxe-nos, ainda, os corporativismos de classe, antes mera figura de retórica porque sempre controlados pelo poder, e, como reacção ao Estado que nada dava, o Estado que tem de dar tudo, incluindo o “substituir-me” no papel educativo de pai ou mãe (o professor que o faça, que é pago para isso e se não o fizer – passar o meu filho de ano mesmo que nada tenha aprendido - vou à Escola e parto-lhe a cara!).

E que papel de “pai” fez este Estado a partir daqui? O longo governo de Cavaco Silva deu-nos a “ditadura” do jovem (não há exames nem chumbos, os professores e as Escolas não têm autoridade, os processos disciplinares não têm qualquer efeito, etc.); o 1º ministro Guterres fugiu do pântano; o 1º ministro Barroso fugiu para o Estrangeiro; o 1º ministro Santana anda por aí; o 1º ministro Sócrates é o pai presente mas que não ouve os “filhos”, arrogante e sempre de dedo esticado. Temos, todos, razões para nos sentirmos órfãos e abandonados!

Neste cenário, onde fica o mérito? Dos políticos, dos professores, dos alunos, dos pais? Como se avalia e se distingue?

Em post anterior, escrevi que a carta da minha amiga Lena Alexandre era sentida, honesta e que traduzia muita mágoa e mantenho a opinião. Conheço há tantos anos a Lena que só posso compreender! Porque toca no cerne da questão actual e mostra a frustração que tudo isto motiva. Porque que sei que não é, nem foi, preguiçosa, tal como muitos outros bons professores, ao contrário do que a Sra. Ministra parece insinuar.

No entanto, digo eu, não basta a avaliação dos alunos e dos pares se não tiver consequências. Os alunos, que eu também fui, sempre avaliaram e continuam a avaliar os professores, num esquema simples e eficiente: os professores que nos marcaram para a vida e de que, muitos anos depois, nos lembramos dos nomes; os que fizeram bem o seu trabalho e mesmo se não nos lembrarmos dos nomes sentimos o seu bom trabalho nos níveis superiores do ensino; os que não tinham jeito para aquilo mas que, “ehe, ehe”, eram uns gajos porreiros que não chateavam; e os que eram tão maus que só nos lembramos das alcunhas (no meu caso, “a sopinha de massinha”, a “Chica Pardaloca”, o “Coças”). O problema é que todos eles, os maus e os bons, os que faltavam sem razão e os que davam ao alunos tempo do seu tempo, os que se dedicavam à sua missão e os que achavam que é um mero emprego, progrediram na carreira na mesma maneira. Não é justo, nem racional, nem produtivo, nem posso concordar. Em nome dos bons professores que conheço e conheci.

Também não sei bem o que significam “as razões economicistas”, que é um slogan muito utilizado. Não gosto da expressão porque não há recursos inesgotáveis, nem mesmo o petróleo. É por razões “economicistas” que todo o povo português não tem os seus filhos no St. Julian School, que está na moda e nos rankings e estava o assunto arrumado! É por razões “economicistas" que, muitos de nós, não podem ter uma vida digna!

Chegado aqui, à actual guerra da avaliação dos professores, podem questionar-me: estou de acordo com a política da Sra. Ministra? Decididamente não! Não gosto de autoritarismos, não gosto do se meter todos os gatos no mesmo saco, de o fazer de modo burocrático e cretino e acho que é o cúmulo da incompetência, raro e difícil, conseguir ter toda a gente contra, os maus, os suficientes e os bons. A Sra. Ministra, na Medicina, teria um diagnóstico, mesmo assim condescendente: autismo. Já perdeu a guerra e por culpa própria.

Então, estupidamente como no futebol, se não sou do Benfica sou do FCPorto. Também não. Não me lembro de 120 mil professores (quantos são ou eram sindicalizados antes?) na rua quando lhes retiraram a autoridade nas aulas, quando as Escolas foram obrigadas a abdicarem de medidas disciplinares básicas em favor da burocracia idiota de uma qualquer DREL, quando o Ministério lhes impôs programas idiotas, quando o Ministro David Justino se esqueceu da Filosofia, quando se acabaram exames de avaliação dos alunos. Vejo, no entanto, 120 mil professores na rua quando se trata da sua própria avaliação, sem apresentarem, como alternativa, a sua ideia de destrinça dos bons dos maus professores.

Os professores, portanto, também já perderam a guerra, mesmo que ganhem a batalha, porque perderam a oportunidade de restaurar o seu prestígio colectivo e de melhorar a sua credibilidade. Em todos os fóruns que oiço, a população está contra a posição dos professores e dos seus sindicatos, mesmo que isto não seja completamente justo. Mas em política o que parece é, dizia o velho Salazar, que espero que continue longe, apesar de ouvir de responsável partidário do segundo partido mais votado em Portugal, antiga ministra da Educação, que com 6 meses de ditadura tudo se melhorava!

Já agora e para terminar, um apontamento pessoal. Sindicalizei-me aos 17 anos, pela mão de um notável sindicalista, Joaquim Paiva e Silva, no tempo em que era difícil ser sindicalista. Mas hoje não gostaria, e com que mágoa o digo, que os meus filhos e netos tivessem como professor o sindicalista Mário Nogueira que é o líder aceite pelos professores. Porque: não dá aulas há muitos anos; não propõe nada que melhore o futuro dos educandos e do sistema em que estes se têm de mover; não me parece defender princípios pedagógicos e formativos mas conjunturas corporativas, efémeras e, em muitos casos, idiotas; defende os que têm emprego mesmo que o não mereçam e não defende o emprego dos que não o têm, mesmo que o mereçam. Em suma, defende melhor o corporativismo atávico português, que já deveria estar morto e enterrado, que os corporativistas teóricos do Estado Novo fascista. E não é esta ideologia que, por conhecimento próprio, desejo para os meus descendentes.

Francisco Costa Duarte
BI 1078780
Av. Carolina Michaelis, 33 - 4º A
2795-053 Linda-a-Velha

3 comentários:

Anónimo disse...

Comentário da Teresa Pais, que publico com a sua autorização:

Qualquer "zezinho" pode opinar contra os professores à toa e sem saber. (o qualquer não é para ti porque tentas sempre informar-te o melhor que podes sobre qualquer coisa de que queiras falar).
Mas imagina-te no teu trabalho a ter que despachar serviço, mas ter que ser avaliado no teu desempenho. Para isso, ao mesmo tempo que tens de fazer o teu trabalho, tens de fazer mais umas quantas reuniões, uns quantos relatórios, mais uns quantos justificativos por escrito da maneira como fazes o teu trabalho , etc....
Alem disso ainda hei-de ir eu, como encarregada de educação da tua secretária, dar nota ao teu desempenho - atenção Chico!: Eu posso não gostar da maneira como a tratas.


Os professores não estão contra a avaliação! Estão contra este modelo de avaliação.


Abraços
--
Teresa Pais
SINTRA

Francisco Costa Duarte disse...

Achei que a Teresa era pertinente e respondi-lhe o seguinte:

Minha querida Teresa Pais,

Sabemos os dois como são difíceis estas coisas! E eu sei que não te zangas comigo nem eu me zango contigo, pintora de mérito, sobre o mesmo quadro, mesmo que as perspectivas e os ângulos de visão sejam diferentes.

Mas estas coisas, como os professores, e bem, ensinam na Matemática, são bi-unívocas: como dizes, qualquer "zézinho", que serão para aí uns 6 milhões em idade adulta, pode avaliar mal, por desconhecimento, o trabalho dos professores, que são para aí uns 150 mil. E, estou contigo, normalmente avaliam-no mal. Mas também, na tal lógica matemática, qualquer professor "zézinho", que é uma parte significativa dos tais 150 mil, pode avaliar mal o trabalho dos outros "zézinhos", que são para aí uns 6 milhões em idade adulta! E, já não sei se estou contigo, normalmente avaliam-no mal. Isto porque os professores, ou os médicos, ou os pedreiros, ou todos os restantes "zézinhos", não são de Marte ou de Júpiter, estão todos no planeta dos "zézinhos".

Não sei se imagino bem o trabalho dos professores em despachar serviço, ter de fazer seu trabalho, ter de fazer não sei quantas reuniões, uns quantos relatórios, mais uns quantos justificativos por escrito de como fazem o seu trabalho e darem nota de desempenho da secretária. Mas, na mesma lógica, não sei se os professores imaginam bem o meu trabalho e o de uma boa parte dos 6 milhões de "zézinhos" em despachar serviço, ter de fazer seu trabalho, ter de fazer não sei quantas reuniões, uns quantos relatórios, mais uns quanto justificativos por escrito de como fazem o seu trabalho e darem nota de desempenho de modo justo sobre as pessoas que de si dependem (repara a responsabilidade moral) e que podem não ter aumento de ordenado ou serem despedidos por isso. E que, para alem disso, ainda são avaliados pelos seus chefes, por vezes umas bestas, mais pelos resultados alcançados, mais pelos seus subordinados, porque, como dizes e bem, podes, como encarregada de educação da minha secretária, não gostar da maneira como eu a trato. Só que eu e muitos dos 6 milhões de "zézinhos" somos julgados por isso, no meu caso ao longo de 39 anos. Dou-te um exemplo: se juntarmos 5 pessoas e formos ao supermercado Continente dizer que a menina da Caixa A nos tratou mal, a menina, uma dos 6 milhões de "zézinhos", é chateada de imediato e se calhar despedida porque está em trtabalho precário, como quase um terço dos portugueses e não tem quaisquer direitos. Podia, mas não interessa, apresentar-te, com nomes e tudo, casos que conheço na Escola Secundária em que fui Presidente da Associação de Pais, de professores mais incompetentes na sua função que a menina da Caixa A, e em que nada aconteceu ao professor relapso, apesar de toda a gente - Associação de Pais, Conselho Directivo, os, muitos felizmente, bons professores da Escola - estarem de acordo que não era sustentável a situação em termos de interesse dos alunos e tudo fazerem para resolver a situação. E sabes quem protegia esta situação anómala? A burocracia legal da DREL e do Ministério, o mesmo da senhora Ministra!

Eu não tenho dúvidas que os bons professores estão contra este modelo "avaliação", por ser idiota, e contra a Ministra que se porta como um elefante numa loja de porcelana, isto é, muito mal e eu concordo e apoio. Já não tenho tanta certeza quanto aos seus sindicatos (onde a esmagadora maioria dos professores não estava, sequer, inscrita e os dirigentes não sabem, há muito, o que é dar aulas a "aturar" alunos), porque me parece, ao que mostram, não estarem interessados em qualquer modelo de avaliação. É isto que eu não entendo, nem alguns milhões de "zézinhos" e pelo que vi, também não o entendem alguns dos professores. Como é possível os sindicatos, SEGUINDO EXACTAMENTE A MESMA LÓGICA IDIOTA DA SRA. MINISTRA, meterem nos mesmo saco os bons e os maus professores?

Se os bons professores, (e conheço alguns que mereciam bem mais reconhecimento da sua escola, do seu ministério, dos pais dos seus alunos) não me merecessem grande consideração, respeito e reconhecimento do seu papel importante na sociedade, sabes que eu não perderia o meu tempo com o assunto e utilizaria a lógica que sempre utilizo: se o desejam, em nome da liberdade de opção, que lhes caia em cima o que desejam, em prestígio, ordenado, credibilidade: é um problema deles e que vão de vitória em vitória até à derrota final! Mas não é isso que lhes desejo, pelo contrário: é que não sejam prejudicados aos olhos da população pelos maus exemplos dos maus profissionais do ensino, que, por esperarem sentados, chegaram, sem mérito, ao cume da carreira. Os bons professores são importantes demais para o futuro para se deixarem misturar com, desculpa o termo, os "descartáveis", de que não se nota a falta.

Mas aos maus professores, que não me merecem, sequer a qualificação, tal como aos maus canalizadores a quem pago e me deixam a torneira a pingar, ou aos banqueiros desonestos e/ou maus gestores, que me lixam nos juros e comissões e ainda vêm pedir auxílio aos meus impostos, ou à Ministra da Educação, que nada melhora e me engana na estatísticas, respondo como se faz, e muito bem, na tua terra: "Vade retro Satanás, t´arrenego Belzebu, ai Jesus, cruzes canhoto", juntamente com um grande manguito da zona saloia!

Pronto, já tens a minha opinião, que vale o que vale, mais um beijão que, garanto-te, vale muito, do

Francisco Costa Duarte

PS - Já agora, se não vires inconveniente, vou publicar tudo isto no nosso blog. Quanto mais opiniões livres tivermos mais probabilidades teremos de ter um problema difícil bem resolvido.

Francisco Costa Duarte

Anónimo disse...

A Teresa Pais respondeu e bem:

Meu rico-Chico
(ia pôr "caro Chico" mas depois surgiu-me esta mais original; e como quem é caro é porque é rico...)


É claro nenhum de nós se zanga com nenhum de nós, e muito menos por causa da bnhurra da ministra da educação. E é evidente que também sei que há muitos incompetentes no ensino e infelismente conheci alguns (porque não andei por muitas escolas). E sempre achei que deviam de ter chumbado no estágio em vez de ter a nota mínima para passar. Assim como deveria sempre ter havido avaliação de desempenho e actualização de conteudos para não haver gente desactualizada e/ou com preguiça de se actualizar.


E é claro, concordo que isto vale para todas as profissões, mas algumas se o não fazem tramam muita gente.


E concerteza que podes pôr tudo no Blog! À vontade e livremente, enquanto a censura não chega aos blogs, aos e-mails e às amizades


Um abraço


Teresa




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Teresa Pais
SINTRA