Amigos taitianos,
Verifico que o nosso blog não teve actualizações em Agosto, o que é natural: não há futebol para a gente dizer mal dos árbitros e ainda é cedo para dizer mal dos treinadores; os políticos estão de férias e não dizem asneiras que possamos criticar (o Sócrates não fala da segurança e o ladrões aproveitam, a Ferreira Leite não fala de coisa nenhuma e o Marcelo, obviamente, não tem assunto) e nós e os outros portugueses estamos na praia, não temos de contestar o chefe e a proibição de namoro ou maçãs na praia não justifica chatearmo-nos e estragar o nosso banho.
Setembro, no entanto, é diferente, começa a pré-época do dizer mal e está na altura de reactivarmos o blog apesar do futebol estar ainda nos primeiros passos (jogadores novos, falta de entrosamento, blá, blá) e os políticos estarem ainda a aquecer para continuarem a dizer asneiras (a inflação e o desemprego vão descer, a economia vai crescer, os portugueses vão aumentar o seu nível de vida neste trimestre e em 2009, blá, blá).
Proponho, por isso, enquanto esperamos, que passemos a dar nota das nossas vivências em férias. Eu dou já o exemplo, inaugurando uma página de Culinária no nosso blog. Se todos os jornais, revistas de coração, televisões, têm um cozinheiro qualquer a dar-nos conselhos, porque não eu e o nosso blog?
Sempre me considerei um cozinheiro mediano (de mediana, da teoria de probabilidades e da estatística da matemática, isto é, vendo bem, faço parte da metade inferior da média dos homens portugueses na cozinha, o que não é um atributo de grande talento culinário (uns bifes, uns ovos mexidos, etc.). No entanto tenho um galardão importante, mais valioso que as estrelas Michelin: há muitos anos, num dia de férias em Tróia, quando a mãe teve de vir a Lisboa com a Mafalda para uma consulta médica de rotina, assumi o almoço, uma tortilha de ovos e chouriço e o meu filho Hugo, então com 4 anos e que andava a ver uns desenhos animados sobre o antigo Egipto, disse-me, entusiasmado, “pai, fizeste uma pirâmide de chouriço”! E era verdade, tive de cortar o monumento culinário com um corta-sebes em vez da faca normal mas nenhum de nós se queixou.
Pois agora, repeti a experiência mas com evidentes melhorias. Tenho estado sozinho em Alcobaça, (a Maria Amélia não tem férias e a minha cadela, obviamente, é uma boa companhia mas não é a mesma coisa), cumprindo o meu dever de agricultor que tem de regar, etc., fazendo o que deveria fazer o Sr. Ministro da Agricultura, que está sempre em Lisboa onde, tanto quanto sei, só há alguns grelos à venda em ruas, bares e discotecas que não são parte desta agricultura. E tive de me apurar na culinária. Aprendi a fazer refogados, sopas, etc..
Por exemplo: hoje comprei umas lulas limpas Pescanova ultracongeladas que trazia uma receita (não vos dou porque podem ver na embalagem) que segui à risca (bem, com pequenas alterações criativas – quem é que se lembra de alho francês, courgettes e dessas coisas globais, condenadas pela Quercus por serem estrangeiras e estragarem o ambiente nos transportes dos seus lugares longínquos de produção?). Não sei se foi por isso, aquilo encolhei tanto que uma receita de 4 pessoas mal deu para um homem e uma cadela. Mas acho que é do Marketing, não confiem nos tempos que eles dizem de cozedura, que o calor faz encolher ao contrário de outras coisas de que não é oportuno falar. Digo-vos que ficou delicioso porque eu não sou esquisito (no bem passado o meu limite é o esturricado) e a minha cadela é gourmet (come tudo desde o cru ao esturricado passando pelo podre, que são as tendências modernas nas cozinhas japonesa, chinesa e francesa).
Tirei, ainda, outra lição desta minha experiência culinária: experimentem preparar uma boa cebola de Alcobaça que, como não é de aviário, ainda vos faz chorar em abundância. O que me lembrou de uma solução para o actual alto número de assaltos a bombas de gasolina e caixas multibanco. Em vez das soluções idiotas propostas pelo governo (câmaras de vigilância – se tiverem grande resolução vêem a marca das meias de nylon usadas para encapuçar? Empresas privadas de segurança – quem paga a ineficácia da polícia, muitos dos seguranças merecem a confiança que se vê nas discotecas?), eu proponho: encham a caixas multibanco, para além de dinheiro para a gente gastar no consumismo, de extracto de cebola de Alcobaça, para disparar quando a caixa for arrancada por roubo: a polícia encontrará os ladrões a chorar pela mãe e facilmente neutralizáveis.
Um abraço bem disposto do
Francisco Costa Duarte
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário