Amigos,
Há uns tempos atrás, atrevi-me a dizer-vos que iria partilhar convosco os meus humildes conhecimentos de Economia e, pomposamente, chamei a esta partilha "Lições de Economia". Penitencio-me por isso. É que, entretanto, interrompi esses meus escritos e já fui questionado por alguns de vós por essa interrupção, por acharem que lhes eram úteis os meus humildes escritos, obviamente, por condescendência e tocante manifestação de amizade.
Agora, e só agora, posso dizer-vos porque interrompi aqueles escritos: porque concluí que não sei nada de Economia, pelo menos como é entendida hoje! O que me leva à normal "saída" airosa: a minha "Lição jubilar" e "magistral" a exemplo dos nossos insignes professores catedráticos, por exemplo, de uma qualquer Faculdade de Ciências, que, na sua "lição jubilar" dissertam, magistralmente, sobre a importância da "Pilha de Volta" (do Séc. XVIII) como se os computadores não existissem. E são muito aplaudidos. Como os jogadores de futebol que nada fizeram no jogo mas marcaram um golo e saem aos 70 minutos para serem aplaudidos pelos parvos dos adeptos. Como veem, já aprendi alguma coisa com as lições da vida!
Após este intróito, que virá a ser o prefácio da 1ª edição (outras, certamente, se seguirão) do meu futuro livro "A Economia Portuguesa e Ocidental no Séc. XXI", vamos, então, às razões deste meu abandono, prematuro, da Economia.
Quando aprendi as primeiras noções de Economia diziam os grandes teóricos e os dirigentes das Empresas que o fundamental era a criação de produtos, pela transformação e enriquecimento das matérias-primas proporcionadas pela Natureza que nos rodeia (um exemplo plebeu: a vaca dá, como subproduto, o couro, que, transformado, dá origem a sapatos). Para isso, diziam os capitalistas mais impedernidos, era necessário dinheiro/capital, que tinha de ser, obviamente, remunerado. Mas era necessário, também e como primeiro factor, mão-de-obra que produzisse os produtos para venda. Os mais inteligentes acrescentavam que era preciso, igualmente, que a mão-de-obra produtora ganhasse o suficiente para poder comprar os produtos que produzia, de modo a fazer rodar a roda do consumo. Nesta mão-de-obra "latu sensu", incluiam-se também os que educavam, tratavam da saúde ou forneciam os bens aos consumidores e até alguns que nada faziam pela produção mas eram igualmente julgados necessários (impostos excessivos, políticos (?), etc.). Chamava-se, então, a isto "produção" e o que se discutia era a "produtividade" (fazer mais com menos) e sobreviviam as Empresas que o faziam melhor. E "emprego" (um desempregado não é um consumidor).
Na técnica contabilística estes fluxos eram registados como receitas e despesas inerentes à actividade, cujo saldo era chamado de "Resultados Operacionais". Era este número que os gestores (e auditores e entidades reguladoras e bancos, para efeitos de crédito) olhavam e gostavam de ver crescer para serem, todos, promovidos e remunerados. Pelo menos teoricamente, uma entidade viável era a que "produzia" e tinha mercado consumidor. Havia, claro, resultados, apelidados de "Mais ou Menos Valias" e contabilizados em "Resultados Extraordinários", que traduziam situações excepcionais, como ganhos em mudar, por exemplo, de instalações da Baixa Pombalina, muito cara, para Mem Martins, muito barata, mas eram meramente residuais. Também se chamava "stocks" e "activos" a coisas tangíveis e com valor efectivo de troca por necessidade real da sociedade e do consumidor.
Claro que já havia a noção de "especulação" (comprar por 10 e vender por 1000), de "corrupção e de cunha/tráfico de influências" mas tinham pouca expressão por serem julgadas, socialmente, como negócio de ciganos nas feiras ou de pequenos funcionários que precisavam de complementar o salário. E, aos mais altos níveis (ciganos tipo Wall Street), seria expressivo o volume mas diminuto o número dos "beneficiários".
Actualmente, porém, não é assim e basta ver um qualquer jornal na sua página de Economia: os "esquemas" são a notícia (off-shores, mais valias especulativas, tráfico de influências/corrupção bem paga, stocks em papel, desemprego, especulação). O que é notícia são as percas de valor do "papel" cujo valor excessivo tinha resultado da "ganância" (é Barack Obama que o diz).
E a atitude social também mudou: não é o mérito que conta mas o "status" e o especulador, mesmo que desonesto, é apelidado de fulano, "inteligente", no "sítio certo à hora certa". Os ídolos, (políticos, futebolistas, jet 6, empresários), são avaliados pelos Armani que vestem, pelos relógios e carros que usam, pelas casas que têm, pelas festas onde estão, pelo número e qualidade dos telemóveis que exibem e não pelos seus sucessos. Vendem-se mais revistas, jornais e programas de televisão a promover isto que toda a informação e literatura juntos.
Até a língua portuguesa foi adaptada: já não há Economia, há Economia e Economia Real, a tal produtiva, mas por esta ordem. Desemprego passou a matemática foleira, é só um número percentual para chicana política e não para preocupação social.
Por tudo isto, e já vão longas as razões, é que me "jubilo". Esta "Economia" está para mim como está o computador para o professor de Física que só sabe da pilha de Volta ou para o político que diz que a culpa é do seu antecessor- que, por acaso é seu amigo. Façam-me a justiça de considerar que isto é uma metáfora e que eu não sou assim tão mau. E não me peçam para tirar as soluções do bolso que eu, como as "altas cabeças", não sei como se resolve o imbróglio, que, garanto, não fui eu que arranjei, mas que, como todos vós, colaborei, por inércia, para que fosse possível e que agora temos nós de pagar.
Só posso deixar um conselho prático: se tiverem dúvidas sobre um produto da Economia "real" e um produto da Economia "actual" experimentem a técnica da sanita: ponham um sapato (é útil e dá emprego) na sanita e puxem o autoclismo e verão que ele não sai dali. A seguir enfiem umas acções do BCP ou BPN (é inútil e dá Jardim Gonçalves ou Oliveira Costa) e puxem o autoclismo e verão que elas se desfazem e vão esgoto abaixo. O valor que dizem (diziam!) que têm, desfaz-se como um excremento normal! Com um efeito colateral perverso: polui, altamente, o Ambiente!
Um abraço do
Francisco Costa Duarte
PS - A citação de "ciganos" não tem, obviamente, razões étnicas ou racistas mas de "vox populi". Sabiam que há firmas no Norte de Portugal, em dificuldades, que fabricam t-shirts que vendem a 40 cêntimos a uma conhecida e "grande" marca espanhola (mas que poderia ser uma conhecida e "grande" marca portuguesa) que as vende ao público a 9,99 euros? Quem é que é o "cigano" aqui?
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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