Amigos,
Deu-me para fazer um intervalo no meu estado desiludido/triste/depressivo, face à crise que vivemos e a já não poder ouvir falar do “Freeport”. Que eu acho que se deve falar, mas com menos palavras e mais factos, mesmo que mais negros para os responsáveis. Para que não passemos a ser o país deprimente dos muitos “F’s”, em vez dos três “F’s” tradicionais: Fado, Fátima e Futebol. Haverá, para nossa desgraça, que juntar Freeport, Feios, Ferreiras Leite e, já agora, Fracos e Frios, face aos Fortes na corrupção e na falta de valores e no Fraco Futuro dos nossos Filhos?
Ainda pensei em abolir o “F” do meu vocabulário – os romanos não tinham o W, o Y, o K, o J, o U, e foram a maior civilização ocidental por centenas de anos - mas desisti. Como passaria a chamar aos Franciscos que eu, os santos Xavier e de Assis e o Louçã, somos? Ou como esperaria o Futuro, ou a Felicidade, que aguardo? E, quando estivesse chateado, como descarregaria o Fígado com uma asneira tipo F*…-se” ou me desculparia com Frustrado?
Daí que, nesta pausa, me desse para esquecer os “F’s” e ver um Filme: A Ponte do Rio Kwai, que deu, há pouco, no Canal Hollywood. Não sou um cinéfilo, mas já vi este filme antigo umas 4 ou 5 vezes. E assobiei, muitas vezes, o hino da sua Banda Sonora! Mas tenho que confessar que, do princípio ao fim, só o vi quando era adolescente, então com outros olhos, e hoje. Isto é, apesar de tudo, estou em melhor posição para me armar em crítico de cinema que os muitos que vejo debitar comentários ao cinema nos jornais. Se tiverem paciência para me acompanhar vejam como eu faço a crítica do filme a exemplo dos críticos encartados.
O filme retrata, numa situação de guerra, um choque de mentalidades e de modo de ver a vida: os militares ingleses, com o seu sentido de disciplina, de dever, de honra individual, de capacidade de sofrimento, de ideal, de construir o futuro (colonial?); os militares japoneses, com, ainda mais fortes e mesmo que pensemos idiotas, o seu sentido de disciplina, de dever, de honra individual, de capacidade de sofrimento, de ideal, de construir o futuro, que nem sabem qual é; o americano, perdido, aldrabão e sem ideais, com o seu sentido de desenrascanço individual, cinismo e os outros que se lixem (onde é que já vi isto?).
Eu aprendi muito ao longo da vida, para o bem e para o mal, com a visão de vida dos ingleses: o seu pragmatismo, o seu sentido prático, a sua sensatez, o seu orgulho nacional. Também aprendi, com a História, que a sua não sujeição ao poder da Igreja centralizada e reaccionária e aos poderes globais/mundiais instituídos, que são, sempre, arrogantes mas não são eternos, foi um factor de desenvolvimento da civilização ocidental! Aprenderam, mas só no Séc. XVI, a tecnologia do mar, “pirateando-a” dos portugueses e espanhóis, que a não souberam desenvolver! Mas inventaram, também, a “revolução industrial”! Com todos os “crimes” inerentes (trabalho infantil e adulto quase escravo, denunciados por um senhor inglês chamado Charles Dickens)! E construíram um Império, baseado na sua liderança, disciplina e mentalidade, racista e sem misturas, mas que levava em conta a educação, ainda que separada, para as culturas dominadas. Mantendo, mesmo sem razão, um orgulho idiota e um egocentrismo vesgo de ilhéus.
Como pífio crítico de cinema, tenho a vantagem de fazer a crítica do filme com distância no tempo: hoje, a mentalidade inglesa já não vale o mesmo: a um grande Churchill, conservador e imperialista, sucederam a falência, derivada da dignidade de resistir ao nazismo, e os “saudosistas imperiais” fora de tempo, como Thatcher ou os “renovadores” como Blair. E a mentalidade japonesa também já não é, e nunca foi, tão idiota e incompetente como parecia no filme em análise, feito por ocidentais: qualquer Toyota ou Honda, ensina, hoje, à indústria inglesa como se faz um automóvel de qualidade (como diria um engenheiro inglês, de nome Scattergood, que trabalhou comigo, os ingleses escreveram todos os livros sobre a industria mas não os leram). A mentalidade americana não terá mudado muito: hoje assim, amanhã o contrário, desde que os nossos americanos interesses se mantenham (hoje, armas para os talibans, Bin Laden e Hussein, amanhã, morte aos talibans, Bin Laden e Hussein, que são os agentes do “mal”! Afinal, o que é o “mal” para os americanos? Mesmo a sua fábrica de propaganda mais conseguida, Hollywood, o que tem de melhor é inglês (Charlot, Hitchcock, Elisabeth Taylor, R. Burton, Peter O'Toole, Laurence Olivier, entre muitos outros).
Uma palavra sobre personagens e actores, por ordem do casting: o americano aldrabão é William Holden, um “canastrão” que me dá saudades quando vejo os Stallones/Rambos posteriores (que matam tudo o que mexe em nome dos “valores” patrióticos e de camaradagem) ou os Bruce Willis (que matam tudo o que mexe em nome de que não sei que “valores” e têm tempo e estômago, entre mortes, de fazer humor cretino); o coronel inglês prisioneiro de si próprio, dos japoneses, da dignidade e do futuro, é Alec Guiness, um actor inglês espantoso, como em muitos outros filmes, que merece um Óscar póstumo já); o coronel japonês, que marca uma personagem dilacerada entre a obediência e a sua consciência, que não sei quem interpreta (um Óscar para melhor actor secundário, já); as meninas asiáticas, heróicas e resistentes, que, certamente copiadas de um qualquer bordel de Las Vegas, não deveriam ser tão dengosas mas mais parecidas com as mulheres resistentes do Vietname, que os americanos tiveram ocasião de conhecer posteriormente!
Em conclusão, mesmo com as eventuais fragilidades, trata-se de um filme clássico, digno de fazer parte de uma boa colecção da história do cinema.
Dirão vocês: numa altura destas, de crise financeira, económica, social, cultural e de valores, na sociedade portuguesa, vem este tipo fazer uma crítica foleirosa a um filme dos anos 50 ou 60! O que é que isto contribui para a nossa felicidade actual (lá está, outra vez, o sacana do “F”)? Este gajo pifou de vez!
Respondo: como são meus amigos, façam o favor de pensar que estou em vias de pifar mas ainda “não pifei de vez”! Neste filme dá para ver, digo eu, que exigência, esperança e capacidade de sofrimento andam lado a lado. É que continuo a ver os portugueses a lamentarem-se e assobiarem para o lado, mesmo sem terem uma boa música como a da “Ponte do Rio Kwai”, para assobiarem! E a enganarem os jovens filhos com um futuro que não estão a construir, nem a exigir que eles ajudem a construir (desculpem a dureza das palavras)! É que, enquanto vos escrevo isto, estou a ouvir o “Prós e Contras”, um filme com um mau argumento que já vi e ouvi mais vezes que a “Ponte do Rio Kwai”, sem grandes resultados, porque não mostra, nunca, como se constroi qualquer ponte, para o presente ou para o futuro e que não ficará em nenhuma colecção! Sem falar nos maus actores que vemos sempre: mesmo em Hollywood fariam acabar com os Óscares por falta de qualidade!
Francisco Costa Duarte
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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