Amigos,
Como sempre procuro estar atento ao que me cerca e o programa "Prós e Contras", mesmo que muitas vezes seja mais do mesmo, é incontornável do ponto de vista de informação televisiva, porque é menos mau que a informação dos telejornais, que dão todo o tempo de antena às tricas partidárias e aos "carapaus de corrida", aos "calimeros", ricos ou pseudo-miseráveis, para contra balançar, às "broncas" e "bronquinhas", sem as investigar ou mostrar as razões e sem ajudar a distinguir dificuldade real de aproveitamento, má gestão, desonestidade ou corrupção real ou moral.
O programa de hoje é sobre a famigerada crise, e no momento em que escrevo estas linhas, o programa está a meio e tem sido um debate morno, com opiniões mais ou menos razoáveis sobre a situação económica e social actual. Mas, como talvez seja inevitável, não estão representadas as opiniões de muitos outros interessados, alguns dos quais, normalmente os mais fracos, que sofrem na pele a crise, a pagam e cujos filhos continuarão a pagar, em salários indignos e em impostos excessivos para alimentar improdutividades e vaidades, sentados à mesa do Orçamento. Não está no programa nenhum
desempregado para explicar o seu drama, nenhum falso "recibo verde" para demonstrar a sua revolta. Mas também nenhum "hábil" especulador, que não paga impostos e usa "off-shores", para ficarmos a saber como fazem para viverem tão bem, nem nenhum político, que ganha pouco (ou ex-político colocado pelos amigos a ganhar muito, tanto faz) como consegue ter casas, carros e reformas topo de gama, para nós aprendermos como devemos fazer para contribuirmos para o "progresso" do país. Igualmente não estão representados os "incompetentes", que toda a gente diz e sente que são muitos, porque todos se afirmam competentíssimos. E também não vejo representantes de empresários, ministros, autarcas, futebolistas, jet 6, etc. que têm excelentes carros e não os bons carros da Auto Europa, que dá emprego em Portugal, nem dos portugueses remediados e altamente endividados que mudam de telemóvel em cada modelo novo, dando emprego à Finlândia! Eu gostaria de saber quem são para ir bisbilhotar os seus caixotes de lixo!
Nem vi representante dos advogados que, com recursos constantes, empresas-fantasmas e outros esquemas legais, bloqueiam a Justiça, onde só o fraco sem dinheiro é condenado.
E, "last but not the least", não está lá a minha opinião! Como sou um pouco previligiado, ainda vos posso passar a minha através do presente mas há muitos mais que nem isso podem fazer. Então deixem-me dar-vos a minha opinião com uma imagem: imaginem, com grande esforço de imaginação vossa para treinarem os neurónios, que:
- havia um navio de cruzeiros que se chamava "Economia";
- cuja tripulação que, dirigia o navio (comandante, oficiais, etc.) eram os políticos, grandes empresários, bancários, comentadores, etc. que todos os dias nos atanasam);
- cujos passageiros/clientes do cruzeiro, que o pagaram, eram pequenos comerciantes, operários e empregados por conta de outrem, falsos "recibos verdes", reformados, pequenos agricultores (concordo que é necessário um grande esforço de imaginação para aceitarem que eram passageiros de cruzeiros mas façam-me o favor de o considerar, mesmo que fiquem com a cabeça a doer);
- o navio começava a afundar, nas Caraíbas, vitima do furacão "Crise".
As boas normas de Emergência e Protecção Civil, nestas circunstâncias, só podem dizer: Srs. passageiros: para todos nos salvarmos, obedeçam à tripulação, a uma só voz, que vos orientará para a melhor solução possível. Este furacão "Crise" era imprevisível e, amanhã, vamos melhorar o barco. Tenham esperança que este barco vai ser um "enorme Portugal".
E está certa a estratégia, "em tempo de guerra não se limpam armas"! Isto salvaria muitas vidas! Mas, (o mas é sempre a pôrra): "Quando tudo o que pode correr mal...corre mesmo mal, tudo vai correr mal" (Lei de Murphy nº 4); "Quem vigia os "Vigilantes"? (interrogação do cartoonista Moore). Os "passageiros" vão aceitar as indicações da "tripulação"? Não, digo eu, porque já não confiam na "tripulação"! Porque
- o governo saiu com um Orçamento onde tudo estava no melhor dos mundos e teve de o corrigir 13 dias (13 dias!) depois; e sempre nos "vendeu", nos anos gordos, crescimentos inferiores aos da média da Europa como "excelentes". Os governos anteriores permitiram estádios de futebol e auto-estradas, que não servem para nada, e verbas da Europa para formação e agricultura que acabaram em jipes e fortunas instantâneas.
- a crise era imprevisível, dizem (costas largas). Era? Quando não há dinheiro senão de endividamento, nem filhos para manter a população na classe média nem, sequer, sítio para circular ou estacionar, acreditavamos que o mercado automóvel iria crescer 10% ao ano? Ou que quando um português já obtinha crédito para pagar a sua casa, a preços especulativos, a 50 anos (50 anos!) e os bancos cresciam os lucros a 45% ao ano, achávamos sustentável? Que anjinhos que somos! O Governo não pensou nisso? E a oposição de Direita combate hoje, se calhar com razão, o TGV, quando defendeu, há 5 anos, a rede em H, que me deu esperança de ter o TGV à minha porta? E a oposição de Esquerda, que defende na rua os que têm emprego previligiado e nada fez para defender quem tem emprego precário ou não tem emprego? A diferença entre político e estadista é que o primeiro vê a próxima eleição, o segundo vê a próxima geração! É evidente que temos demasiados políticos e deficit de estadistas!
- os grandes empresários, que aceitaram uma melhoria miserável no salário minímo nas negociações, se recusam, quando chega a altura de o pagar, de o fazerem. Destruindo o pouco poder de compra dos seus próprios clientes!
- os bancários, que sempre quiseram menos estado para aumentarem os lucros mas que quando corre mal reivindicam sentarem-se, ainda mais vezes, à mesa do Orçamento, que todos os portugueses pagam!
- os comentadores, que comentam tudo e mais alguma coisa, no dia seguinte dizem o contrário sem ninguém os responsabilizar!
No debate morno do "Prós e Contras" quando o economista Nogueira Leite, concordando até com a política do governo, disse que era importante o Estado auxiliar o sistema financeiro com critérios transparentes, para repor a confiança no mercado, o ministro Manuel Pinho respondeu que a hora é de emergência, não de olhar critérios mas de união de todos os portugueses. Manuel Pinho, membro de um governo que não aceitou, de dedo em riste, com a sua maioria, uma única sugestão relevante da oposição, fala de união! Fico espantado, mais do mesmo! E, diz-se, PS não desdenha uma coligação com o CDS no caso de não ter maioria! Concordem que se não houver qualquer factor novo, o barco "Economia" só pode ir ao fundo, agora ou no tempo dos nossos filhos ou netos!
Podem perguntar-me: onde estão os portugueses normais, as vítimas principais de tudo isto? Lembram-se do filme Titanic? Para mim são os músicos que continuam a tocar valsas enquanto o barco se afunda!
Francisco Costa Duarte
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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